A manhã foi agitada, encontros, pequenas conversas, pequenas zangas, pequenos abrir de olhos.
Apesar de não chover o frio faz-se sentir mas não me apetece sair daqui.
Na esplanada pequena, vermelha, está apenas um senhor que se vai deliciando com as pequenas saias que passam de duas colegiais, sorri, percorre-lhes o corpo com os olhos até que se afastam do seu campo de visão.
Coloca o cigarro na boca e sinto que os seus lábios o pressionam para mais uma passa perigosamente longa, vira a cabeça e encontra-me o olhar, esboça um sorriso nervoso de quem foi apanhado a observar as jovens que passaram, devolvo-lhe um sorriso despreocupado, como se todas nos tivéssemos já habituado ao olhar mais ou menos intenso dos homens.
Retomo os meus pensamentos que me levam para longe deste lugar.
Acho que aprecio este frio que me percorre o corpo e sei pela minha teimosia que não vou abandonar este lugar. Deixo que ele entre dentro de mim. Tenho de sentir que estou viva.
Acendo um cigarro e peço um café, a senhora informa-me que estarei melhor lá dentro, agradeço-lhe a atenção mas prefiro o ar que posso respirar cá fora.
Poucas são agora as pessoas que se vêem, regressam a casa para provavelmente preparem o almoço.
Eu abraço de novo os meus pensamentos.
Quero pegar em cada um deles e arrumá-los da melhor maneira possível, nas gavetas da cómoda que instalei no meu interior.
Não consigo, teimam em misturar-se e em apoquentar-me, definitivamente têm vida própria e eu resigno-me e deixo-me estar aqui
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